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Economistas do ‘Top 5’ veem Selic próxima a 12%

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Descolamento das expectativas de inflação assusta e exige cautela do BC, avaliam especialistas.

O cenário inflacionário ganhou contornos ainda mais desafiadores, o que tem levado as expectativas de inflação de médio prazo a se afastarem cada vez mais do centro da meta do Banco Central. O presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, mostrou na sexta-feira graus de preocupação ainda mais elevados quanto à desancoragem das expectativas inflacionárias, em um momento no qual parte dos analistas já projeta o IPCA acima do teto da meta oficial em 2022.

Entre os economistas que integram o “Top 5” de médio prazo do Focus, a percepção é a de que a Selic deve se aproximar de 12%, embora alguns não descartem níveis bem mais elevados.

“Temos uma economia muito inflacionada, com números muito altos e núcleos elevados. Não vemos uma desaceleração tão cedo”, afirma Fernando Daitx, sócio e analista de macroeconomia do Bahia Asset Management. A casa projeta o IPCA em 10,2% no fim deste ano e em 5,4% em 2022, acima, portanto, do teto da meta (5%). “Vemos um cenário bastante preocupante, de inflação, com alguma desaceleração nos núcleos, mas só na segunda metade do ano que vem”, afirma Daitx.

Apesar disso, o Bahia Asset já projeta o IPCA de 2023 em 4,1%, acima do centro da meta, embora ressalte o cenário bastante incerto até lá. E é nesse ambiente que a gestora observa com lupa os próximos passos da política monetária. Daitx se mostra preocupado com os efeitos da ausência de âncora fiscal nas expectativas de inflação. “Já vimos uma movimentação relativamente pequena. É uma coisa que chama a atenção, porque elas não costumam andar tão cedo”, diz, ao se referir à mediana das projeções do Boletim Focus para o IPCA tanto em 2023 quanto em 2024.

No cenário-base da gestora, a taxa básica de juros deve chegar a 11,5% no fim do atual ciclo de aperto, com uma alta de 1,50 ponto percentual em dezembro, outra elevação de igual magnitude em fevereiro e um aumento final de 0,75 ponto em março. “Mas esse número tem mais cara de piso. Temos vários cenários alternativos e, em um deles, a Selic talvez tenha que ir para 15%. O risco é todo enviesado para cima”, diz Daitx.

O economista-chefe da Vinland Capital, Aurelio Bicalho, tem cenário semelhante ao esperar que o IPCA fique em 5% em 2022, no teto da meta. Além disso, ele se mostra preocupado com as expectativas de inflação do Focus para a inflação em 2023. “É importante o BC reiterar o compromisso com a inflação de 2022 e não desistir desse compromisso, porque mostra o incômodo com a inflação alta e sinaliza a pretensão de garantir a ancoragem no horizonte mais longo”, diz.

“Temos que lembrar que política monetária é um processo mais contínuo. Não sairemos de um quadro em que 2022 exige um aperto monetário muito maior e vamos para 2023 em que não precisaria subir muito mais a Selic”, afirma Bicalho.

Em seu cenário básico, a Vinland trabalha com a Selic em 12,25%, em nível que será alcançado em maio. Para Bicalho, o passo de hoje – com altas de 1,50 ponto percentual na taxa básica – “é condizente com um ajuste rápido da Selic para o nível que for necessário para trazer a inflação para a meta no horizonte relevante”, embora o profissional ache “razoável” o BC debater um passo mais rápido. “O ritmo de agora já é um passo forte e significativo”, diz.

Por Victor Rezende e Felipe Saturnino — De São Paulo

Valor

22/11/2021 

 

 


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