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Privaty equity pode girar US$ 1 tri em ano recorde

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Estudo da Bain projeta volume inédito para o setor no mundo, embalado por juros baixos e ampla liquidez movimentam negócios

Diante das baixas taxas de juros globais e da injeção massiva de estímulos pelas principais economias do mundo na pandemia, a liquidez abundante deve levar o mercado de private equity, que se dedica à compra de participação em empresas, a um recorde em 2021. Levantamento da Bain & Company estima que o setor vai movimentar US$ 1 trilhão no mundo até o fim do ano – somando a captação dos fundos, os negócios fechados e os desinvestimentos. No Brasil, a animação se concentra no segmento de venture capital, voltado a ativos ainda não maduros.

O cálculo foi feito com base nos negócios do primeiro semestre, que registrou giro de US$ 539 bilhões, quase a média anual do segmento, de US$ 543 bilhões, contabilizada desde 2016.

Se a projeção para este ano se concretizar, a indústria global de private equity terá triplicado de tamanho na última década. O recorde até agora se deu em 2006, quando o setor movimentou US$ 804 bilhões, atingindo um pico antes de a crise financeira estourar.

“Nunca se levantou tanto dinheiro. Um fator de impulso, além dos juros, são os bons retornos dessa classe de ativos, inclusive superior ao de empresas listadas, quando analisamos um horizonte plurianual”, afirma André Castellini, sócio-diretor da consultoria Bain. “Agora, a indústria tem o desafio de encontrar transações suficientes para distribuir o capital.”

Um número que fortalece a tese de que muitos negócios ainda devem ser fechados no curto prazo é o volume de US$ 3,3 trilhões, registrado até 30 de junho, que os fundos já levantaram e ainda não usaram para investir.

Do lado do capital novo, entre os fundos que atuam no Brasil, a gestora Advent anunciou, no fim do ano passado, a criação de um veículo de US$ 2 bilhões para investir na América Latina – capital que compõe esse poder de fogo para 2021. A Vinci Partners captou neste ano R$ 1 bilhão para um fundo de impacto depois de já ter levantado um private equity mais tradicional no fim de 2020, e ainda atraiu recursos para um veículo dedicado a saneamento. Outra que aproveitou foi a GEF Partners, além de fundos regionais dedicados a venture capital.

No Brasil, os recordes se concentram no segmento de maior risco dos fundos de participação – gestoras de venture capital investiram R$ 33,5 bilhões em nove meses, o triplo do ano passado, em quase 230 startups no país, segundo levantamento da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) e da KPMG. Também houve um aumento considerável do tamanho dos cheques. O aporte médio no terceiro trimestre, de R$ 131 milhões, foi 63% superior ao do mesmo período do ano passado.

No private equity, segmento da indústria que concentra investimentos em empresas mais maduras, os investimentos caíram 27% no período, para R$ 4,5 bilhões, mas os desinvestimentos aumentaram 42%, para R$ 16,9 bilhões. “Se por um lado temos um ciclo muito virtuoso de venture capital nos últimos três anos, no mercado mais maduro, de private equity, a situação política e econômica cria um mau humor geral”, diz Piero Minardi, presidente da Abvcap.

“A volatilidade cambial assusta muito, mais do que o patamar em que câmbio está, e as companhias nesse segmento dependem mais do crescimento econômico. No venture capital, com inovação tecnológica, disrupção, há um campo fértil que sofre bem menos impacto desse cenário”, acrescenta.

Gestoras de médio porte brasileiras, que tinham começado a captar em plataformas de varejo, também começam a sentir o impacto do aumento rápido dos juros- que afeta o custo de oportunidade de aplicar num fundo em que o dinheiro pode ficar retido por dez anos.

Assim, sem grandes surpresas, o setor de tecnologia se destaca, no Brasil e no mundo, com uma em cada três transações no globo. “As empresas de tecnologia se provaram vencedoras e isso veio pra ficar. Não é mais a bolha da internet de 2000, mas um papel real na economia”, diz Ricardo Kanitz, sócio-fundador da Spectra, gestora que investe em uma série de fundos de participação de terceiros.

O fundo de private equity da XP investiu no Will Bank, em clínicas oftalmológicas e em restaurantes. A Kinea investiu na rede de produtos para pets Cobasi e também fez incursões em venture capital, como a plataforma de correspondentes bancários on-line Paketá e na startup de segurança da informação em nuvem Tenchi Security.

Mas 2021 também foi propício para fundos e gestoras realizarem ganhos, desfazendo-se de ativos que estavam há anos no portfólio. Em volume, o destaque foi a venda do Big para o Carrefour, negócio no qual a Advent transformou um investimento de R$ 2 bilhões em um ganho de R$ 7,5 bilhões.

Entre uma série de transações relevantes, o Partners Group vendeu o Hortifruti para a Americanas, movimentando mais de R$ 2 bilhões, e o Pátria vendeu a fatia na rede de clínicas Alliar para o empresário Nelson Tanure. Por outro lado, a gestora fez aquisições relevantes em suas teses de consolidação de cibersegurança, saúde e telefonia.

Para os especialistas, a liquidez global pode fazer os investidores estrangeiros voltarem a ter participação mais relevante em fusões e aquisições no Brasil, seja para a compra de investidas dos fundos em bolsa, seja para aporte nos veículos como cotistas ou mesmo para a disputa por ativos.

“Para bem ou para mal, o Brasil é um mercado de risco e as tendências globais apontam para cá. Infelizmente, pelas incertezas políticas à espera das eleições, poucos fundos estão conseguindo levantar dinheiro novo agora”, diz Castellini, da Bain.

Mas isso vai depender de “ordem na casa”. “Queremos trazer para cá um pedacinho desse capital internacional, de uma indústria que é muito grande lá fora e cresce cada vez mais, e que o Brasil não está ajudando muito a atrair hoje”, afirma Minardi.

A estimativa é que a indústria de fundos de participação movimente de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões, uma fatia pequena do mercado global.

Foto: Luis Ushirobira/Valor

Por Manuela Tecchio — De São Paulo

09/11/2021

 


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